As experiências imersivas devem ser vistas como um meio; não um começo, muito menos um fim

Por: Marcos Amazonas

Todas as grandes cidades do mundo estão apresentando exibições imersivas, mas elas se bastam? São um começo para despertar o interesse pela arte? Ou representam um fim para a exposições? Mas o que significam e possibilitam, estas exibições imersivas?

Vamos começar pela definição de imersão que, além de mergulho, ou a ação de introduzir algo em um líquido/fluído, também tem como sinônimos: concentrado, compenetrado, atento, absorvido, absorto, entregue, focado, aplicado, dedicado, engolfado, embebido, abismado, imbuído, entranhado. Bem, como as exposições imersivas chegaram a nós como “immersive experiences” vamos ao significado de immersive; o Cambridge English Dictionary descreve a imersão como “o fato de estar completamente envolvido em algo”. Portanto as tendências de arte imersiva são aquelas que usam novas mídias para criar uma experiência total de corpo e mente e atrair o público para seu próprio universo. Essas peças de arte envolvem nossa visão, toque e, às vezes, até olfato. Usando novas mídias como mapeamento de vídeo, AR, VR, AI, tecnologias de som e shows de luzes, os artistas podem criar ambientes que sugam o espectador para seus mundos. Assim, tem-se a sensação de fazer parte da obra de arte.

As exibições imersivas

Estas exibições se multiplicaram rapidamente por todo o mundo e os profissionais de museus e da cultura têm que se perguntar por que milhões de pessoas pelo mundo estão decidindo que gostariam de passar seu tempo livre em um ambiente imersivo, vendo as obras através de projeções, ao invés de ir a um museu e ver obras de arte reais.

Primeiro temos que separar as exposições imersivas em 2 categorias:

A primeira, as criadas e produzidas por artistas que propuseram uma nova arte experiencial. Nesta categoria podemos citar o TeamLab, cujas experiências não apenas sobrecarregam os sentidos, mas também permitem que os visitantes interajam com o ambiente.

Foto: teamLab Planets TOKYO

A segunda, formada pelas experiências dedicadas apenas aos artistas “de marca” como Van Gogh, Klimt, Frida Kahlo, Michelangelo, Monet, Picasso e outros. Mas por que apenas a artistas super reconhecidos? Simples, porque ao focar apenas nesses reconhecidíssimos artistas, verdadeiros cânones da arte ocidental, se apropriam de um “certificado de qualidade”. Elas oferecem uma experiência estética, já que as imagens projetadas em grandes formatos não são o fator determinante, afinal uma imagem gigantesca é “parecida” à próxima.

Foto: Divulgação Michelangelo: O Mestre da Capela Sistina – A Exposição No MIS Experience

Este ano, a cidade de São Paulo receberá várias exibições imersivas desta segunda categoria: Monet (no Parque Villa Lobos) e Michelangelo (no MIS Experience) já estão em exibição e estão sendo preparadas várias outras, como por exemplo: Frida Kahlo, Picasso, Klimt, Pequeno Príncipe e Tarsila.

As marcas da imersão

Ao entrar em uma experiência imersiva todos os seus sentidos são ativados, enquanto seu cérebro tenta entender o que está acontecendo, é como mergulhar em uma piscina.

A imersão é, em certo sentido, o ato de transitar e estar ciente da transição.

A satisfação do receptor  é  associada  à  intensidade  da  experiência  imersiva,  a  qual  é  diretamente  relacionada  à  impossibilidade  de  dispersão  do  foco  proposto  à  atenção  multissensorial.

A imersão ocorre nas dimensões externa e interna à mente. Portanto, mesmo que externamente a experiência possa ser grupal, essa também requer o comprometimento individual que, primeiramente, depende do desejo do sujeito receptor.  No nível  interno  e  individual,  a  experiência  imersiva  requer  o  desejo  de  mergulhar  sensorialmente,  afetivamente  e  cognitivamente  na  experiência.  Inclusive, são o desejo e o compromisso de imersão que permitem ao receptor concentrar sua atenção na projeção e no som emitidos; portanto, as experiências imersivas precisam corresponder à essas demandas.

Outro fator importante é a necessidade de conectar profundamente o receptor com o tema proposto. Depois de atraído, a continuidade eficiente de estímulos incita diversas conexões afetivas e simbólicas, envolvendo o sujeito receptor nos processos de imersão, apropriação e pertencimento.

Três fatores encorajam e sustentam essa sensação de imersão: atenção, motivação intrínseca e a intervenção dos visitantes.

Atenção

Ao processar as informações recebidas, nosso cérebro emprega dois sistemas de atenção: o Sistema 1, que é rápido e intuitivo e requer pouco esforço e o Sistema 2, que é lento e lógico e requer esforço consciente. Para que fique clara a diferença, o Sistema 1 economiza nosso poder cerebral finito para situações nas quais ele seja exido. Ir para casa sempre pelo mesmo caminho é um exemplo do pensamento do Sistema 1. Já para localizar o rosto de um amigo numa multidão precisaremos usar o Sistema 2.

A imersão desencadeia uma mudança na forma como prestamos atenção, já que o Sistema de Atenção 1 não é suficiente, o Sistema 2 assume o controle enquanto nosso cérebro tenta responder às perguntas “Onde estou?” e “Que novas regras se aplicam?” Num ambiente de experiência imersiva, com várias coisas estimulando nossa mente em todas as superfícies ao nosso redor, temos que prestar atenção de uma maneira muito diferente da que prestamos em um ambiente familiar como casa, trabalho ou a visita a um museu. As exposições imersivas realmente atraem a atenção dos visitantes, embora seja discutível se a atenção é realmente plena e o quanto eles apreendem nessa exibição.

Vídeo: Divulgação da exposição Portinari para todos @misexperience

Motivação intrínseca

A motivação intrínseca dos visitantes é fundamental para uma experiência parecer imersiva ou não, isso porque o visitante quer sentir a imersão e foca sua atenção em reforçar a realidade percebida da experiência. É por essa razão que mesmo ambientes virtuais de baixa resolução podem parecer imersivos, porque nosso cérebro preenche as lacunas com nossa imaginação.

Foto: Divulgação Michelangelo: O Mestre da Capela Sistina – A Exposição No MIS Experience

Intervenção dos visitantes

A ação que os visitantes praticam para interagir com o ambiente é importante. Como parte da experiência imersiva é a transição do ambiente padrão para o novo, a metáfora de “visitar”, com todas as suas associações, que ajuda a promover um sentimento de intervenção, ou seja, a satisfação poder de tomar ações significativas e ver os resultados das decisões e escolhas.

Foto: Bia Stein Divulgação da exposição Portinari para todos @misexperience

Imersão como um meio

A maioria das críticas feitas às exposições imersivas se resumem a “elas não ensinam nada aos visitantes”. Apesar de ser uma crítica válida, ela não revela que, de fato, o que temos é uma oportunidade perdida, já que os visitantes estão atentos, motivados e dispostos a se envolverem, mas não estão tendo oportunidades de satisfazer todos os seus desejos.

Foto: Cinthia Bueno

Devemos pensar na imersão como um meio poderosa para engajar os visitantes de maneira mais profunda e não um produto em si mesmo, um fim.

Como seria uma exposição concebida como uma coletânea de histórias na qual os visitantes se engajam através da imersão? Para onde levaríamos os visitantes se a imersão fosse parte importante da jornada e não o ponto final?