Maria Lira Marques Borges nasceu em 1946, em Araçuaí, Vale do Jequitinhonha. Esculturista, pintora, educadora e musicóloga, iniciou sua trajetória artística nos anos 70. Ao lado do frei Chico, religioso holandês que a ajudou na descoberta de sua vocação, fundou em 1971 o coral Trovadores do Vale e, posteriormente, o Museu de Araçuaí, inaugurado em 2010. Nessa época, Lira se dedicava à criação de bustos e máscaras. Já nos anos 1990, inicia a fase bidimensional de sua obra, a qual dá o título de “Meus bichos do sertão”. Ela cria uma técnica original de pintura, que emprega pigmentos minerais misturados numa têmpera-cola aplicada sobre o papel. São notáveis em suas composições as texturas e contrastes entre tons terrosos, laranjas e beges.
Porém, são as figuras criadas pela artista que se destacam: os bichos imaginários. Não há uma classificação ou identificação dos animais que retrata nas pinturas, mas uma possível associação é com os bestiários que circulam em publicações acadêmicas documentando animais extintos mantidos pela tradição dos povos falantes da língua maxacali, habitantes da mesma região de Lira. Ou, ainda, se pensar na sua relação ancestral com as pinturas rupestres das cavernas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de Minas.
Com materiais que incluem até pincéis feitos com a ponta do rabo de um gato, Lira Marques usa tintas da terra do Jequitinhonha para pintar, em pedras ou telas, animais de sua imaginação. “Você vê que meus bichos não são esses bichos daqui desse mundo, não. Às vezes esse ali parece que é um veado, eu não tive a intenção de fazer um veado, eu não tive a intenção de fazer determinado animal. Mas se as pessoas acham que parece, tudo bem”.