Corita Kent: A Freira Pop

Corita Kent, nascida em Iowa nos EUA e rebatizada como Irmã Mary Corita após ter se juntado à Ordem do Imaculado Coração de Maria em 1936, foi uma freira católica, artista e educadora que defendia a justiça social e uma arte acessível e democrática. Corita estudou artes visuais e, depois de formada, começou sua atuação como professora no departamento de artes da escola, onde propunha a seus alunos, por exemplo, criações de instalações de arte em espaços públicos a partir de caixas de papelão. Durante o tempo que restava entre os semestres que lecionava, a artista dedicava-se exclusivamente à produção de serigrafias, técnica que escolheu como seu principal método de trabalho por ser versátil, de baixo custo, acessível aos estudantes e facilmente multiplicável.

Corita Kent em sala de aula, 1955

Em seu trabalho, levantava discussões sobre racismo, direitos civis e feminismo, desafiando ideais conservadores da Igreja. Foi uma voz ativa durante o movimento de contracultura dos anos 1960 e, após visitar uma exposição e ficar impactada pela famosa série de latas de sopa Campbell’s de Andy Warhol, trouxe a linguagem pop para junto de suas serigrafias. Corita também passou a se inspirar na cultura de rua, em identidades visuais de grandes empresas e em outdoors comerciais. Misturava palavras e citações de maneira provocativa, como por exemplo, quando usou na serigrafia “Love is Here to Stay” (1965), a letra da música dos Beatles, “Things We Said Today”, sob o logotipo da revista americana Look. Além disso, reproduzia passagens da Bíblia em inglês em várias de suas obras, o que teve um impacto no abandono do latim nas missas.

“Love is Here to Stay”, Corita Kent 1965

Ao longo de sua carreira como professora no Immaculate Heart College, em Los Angeles, propunha exercícios não convencionais aos alunos e estimulava o pensamento crítico. Corita desenvolveu uma lista de “regras” que encorajava estudantes e educadores a trabalharem duro, com comprometimento e, ao mesmo tempo, tendo prazer em seu trabalho. A lista, que ficava colada na parede da sala de aula, apresentava os seguintes tópicos:

Regra 1: Encontre um lugar em que você confia e tente confiar por um tempo.

Regra 2: Deveres gerais do estudante: Retire o máximo de seu professor. Retire o máximo de seus colegas.

Regra 3: Deveres gerais do professor: Retire o máximo de seus estudantes.

Regra 4: Considere tudo como um experimento.

Regra 5: Seja autodisciplinado. Isso significa encontrar alguém sábio ou esperto e escolher segui-lo. Ser disciplinado é seguir de uma boa maneira. Ser autodisciplinado é seguir de uma maneira melhor.

Regra 6: Nada é um erro. Não há vitória nem falha. Há apenas o fazer.

Regra 7: A única regra é o trabalho. Se você trabalhar, isso te levará a algo. São as pessoas que fazem todo o trabalho a todo tempo que um dia entendem as coisas.

Regra 8: Não tente criar e analisar ao mesmo tempo. Esses são processos diferentes.

Regra 9: Seja feliz quando você conseguir sê-lo. Divirta-se. É mais fácil do que você imagina.

Regra 10: “Estamos quebrando todas as regras. Até mesmo as nossas regras. E como fazemos isso? Deixando bastante espaço para quantidades X.” John Cage

As regras de Corita Kent, com caligrafia de David Mekelburg

Corita faleceu em 1986, deixando grande parte de suas obras para a comunidade do Immaculate Heart College. Seu trabalho foi coletado pelo Metropolitan Museum of Art e pelo Museum of Modern Art e pelo Los Angeles County Museum of Art, e reproduzido em outdoors e camisetas. Na época de sua morte, ela havia criado por volta de 800 edições serigráficas. Em 2018, Los Angeles declarou a data de aniversário da artista, 20 de novembro, como o Dia Corita Kent, em homenagem às suas contribuições para a cidade.